É consenso entre psicanalistas e filósofos contemporâneos, que vivemos um
tempo em que somos impelidos ao mais de gozar. Vários são os apelos publicitários implícitos ou não, para a busca por felicidade, sucesso, beleza e
até mesmo pela vida eterna. O “elixir da longa vida”, se presentifica através
de cremes milagrosos, cirurgias e todo o tipo de promessas de juventude.
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| Edward Munch - Melancolia |
Desse modo, nada é menos desejável nesses tempos líquidos (Bauman) do
que o luto. Antigamente quando alguém morria, mostrávamos nossa tristeza
através de atos simbólicos que eram compartilhados pela cultura. O luto era
vivenciado em comunidade através das roupas, gestos e
tradições. Especialmente nas pequenas cidades do interior do Brasil, era comum a presença das chamadas “carpideiras”, que eram mulheres contratadas para chorar nos velórios aonde eram
entoados cantos e rezas. Entretanto, percebemos que a cada ano que passa, os velórios tem sido cada vez
mais “assépticos” e de preferência, rápidos.
Em uma sociedade onde o luto não pode ser feito, pois se percebe o sofrimento da perda como algo a ser medicado, não é de se espantar
que existam tantos melancólicos.
A dor pela perda deve ser vivenciada para que haja a simbolização da falta. A morte não ressignificada
retorna ao psiquismo na forma de melancolia. Como disse Freud em seu texto de 1917 “Luto
e Melancolia’, a sombra do objeto recai sobre o ego e a perda objetal agora se
traduz como a perda de si.
Aurea L. Pioli
Aurea L. Pioli


